top of page

Aos mais desavisados, talvez possam surpreender esses “tankas quase tankas” e esses “haicais quase haicais”, assinados por Abelardo Rodrigues. Mais familiarizados com a verve combativa do autor de Memória da noite – “um dos guerreiros da moderna literatura brasileira negra”, como bem sintetizou outro de nossos grandes, José Carlos Limeira –, alguns leitores possivelmente verão o novo livro como uma aproximação fortuita do poeta de Atlântica dor com a estética leste-asiática. Não obstante, basta uma rápida consulta ao precioso volume que reúne a tradução dos tankas de Takuboku Ishikawa por Masuo Yamaki e Paulo Colina, publicado em 1985, para atestar que Abelardo Rodrigues há muito já conhecia a poética nipônica: é ele quem assina um dos textos introdutórios ao volume, no qual disserta sobre as traduções de poesia japonesa então disponíveis no Brasil e apresenta alguns apontamentos sobre os tankas de Ishikawa, ensaiando um cotejo com os haicais de Bashō.

É o próprio Abelardo, contudo, quem resgata esse percurso histórico ao incorporar, à introdução de seu novo livro, um texto produzido na década de 1990 em que resgata sua participação no I Encontro Brasileiro de Haicai, em 1986. No relato, Abelardo disserta sobre a sua relação com o tanka e com o haicai, sendo especialmente notável atentar para a tentativa de respeito à sensibilidade originária da forma poética (sobretudo no que tange ao kigo) e para a maneira como o lirismo dos imigrantes japoneses leu a realidade brasileira – em particular, o mundo negro.

Essa, portanto, a chave para que possamos compreender o processo de emergência deste livro: trata-se da produção coligida de um autor que, tendo se destacado entre os nomes maiores da nossa produção literária negra, ao longo de décadas conviveu e estudou a poética nipônica, e que agora nos oferece o resultado dessa aproximação. Ao acrescentar “quase” aos seus haicais e tankas – já no título, mas também no interior do volume –, Abelardo reafirma a sua cautela e o seu respeito diante da tradição do haicai; ao mesmo tempo, ao somar “bucólicas” ao título, bem como o neologismo “bucolicais”, não recusa a aproximação entre a poética leste-asiática e uma outra tradição, esta sim, ocidental, traçando pontes com aquela de matriz greco-romana.

– Do prefácio de Henrique Marques Samyn, escritor, professor e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Tokyo University of Foreign Studies (TUFS). Autor de ブラジル黒人文学と批評の伝巘 (2024), Anastácia e a máscara (2024) e Levante (2020), entre outros livros.

Bucolicais: quase tankas, quase haicais

R$ 50,00Preço
Quantidade

    Editora Córrego Ltda

    CNPJ 17.918.171/0001-05

    Rua Araújo, 355, ap. 31

    República - São Paulo - SP

    CEP 01220-020

    revistacorrego@gmail.com

    © 2022 Editora Córrego

    bottom of page